Crítica: Ponte Aérea

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Tentar tratar da vida e as diferenças entre as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro sem parecer altamente caricato é uma tarefa complica, mas que é assumida pelo longa “Ponte Aérea”, que narra o romance entre uma paulistana e um carioca. Amanda (Letícia Colin) é a paulistana que conhece Bruno (Caio Blat), um rapaz carioca, após um voo que ia para São Paulo em que os dois estavam fazer uma parada forçada em Belo Horizonte por uma noite. Entre idas e vindas entre suas cidades natais, os dois se apaixonam, mas precisam lidar com o fato de serem muito diferentes.
O início do filme, quando o casal se conhece e tem seus relativos enredos expostos para o espectador, é um tanto forçado e beira ao superficial. Felizmente, as coisas melhoram no decorrer do longa, conforme a relação dos dois vai se estreitando e se torna mais real. Do mesmo modo, a visão que o filme passa de São Paulo e do Rio, que a princípio parece se focar em elementos já batidos, também evolui, uma vez que o filme sabe como utilizar as generalizações entre as duas cidades de forma a inverter os conceitos em alguns momentos (o Rio pode ser triste para alguns personagens, enquanto São Paulo vira sinônimo de alegria e família).
A representação das cidades também se encontra nos dois protagonistas de forma bem colocada. Amanda está sempre trabalhando, não para nunca e é “heavy user” de redes sociais. Já Bruno é mais calmo, gosta de lidar com arte sem grandes pretensões e não é muito fã de tecnologia. A metáfora que coloca os dois personagens como encarnações de suas cidades de origem é nítida e torna-se divertido ver como estes dois opostos se relacionam, com cenas cômicas bem trabalhadas.
Pena que o filme não decide se pretende ser uma comédia romântica despretensiosa ou um romance dramático e triste. A produção se sai melhor na primeira opção, uma vez que boa parte do lado mais dramático da trama gira em torno da desinteressante história de Bruno ter de lidar com um novo irmão e um pai à beira da morte. Somente quando o foco passa a serem os problemas do relacionamento do casal é que esse lado mais melancólico do filme se sobressai de forma satisfatória.
Porém, o melhor elemento de “Ponte Aérea” são seus atores protagonistas. Colin controla o longa com perfeição, dando personalidade e força para uma mulher independente e em busca do sucesso. Já Blat insiste em um sotaque carioca irritante e forçado, mas controla bem o emocional de Bruno e não decepciona em boa parte da projeção. Junto os dois atores formam o amago do filme.
O que acontece com “Ponte Aérea” é que, embora tenha pontos que precisam ser mais bem trabalhados, no final ele se sai bem graças a seus protagonistas carismáticos e a sua história capaz de agradar dois públicos distintos. Fica apenas a dúvida se pessoas fora do eixo “São Paulo–Rio de Janeiro” se impressionarão com o longa.

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